21 de fevereiro de 2013

História da Homeopatia


As primeiras tentativas de criar uma teoria racional sobre a saúde e a doença aconteceram na Grécia, com Hipócrates (468 a.C. – 377 a.C.), considerado o pai da medicina, responsável pelo estabelecimento de uma atividade médica apoiada no conhecimento experimental, desvinculada da religião, da magia e da superstição.
Para Hipócrates, a terapêutica tinha por base o poder curativo da natureza e as doenças deviam ser interpretadas considerando-se o quadro particular de cada indivíduo. Ele entendia a doença como a perturbação do equilíbrio, o qual mantinha o ser humano em harmoniaconsigo mesmo e com a natureza. Nesse sentido, havia uma indistinção entre a mente, o corpo e o cosmos, numa visão sintética do ser humano em suas relações com o meio ambiente. Demonstrou que os sintomas são reações do organismo à enfermidade, que o trabalho dos médicos era ajudar as forças defensivas naturais orgânicas. Criou os padrões éticos da medicina e estabeleceu as providências do diagnóstico, do prognóstico e da terapêutica, que até hoje são determinantes na prática médica.
A Homeopatia se alicerça na seguinte máxima anunciada por Hipócrates: “A doença é produzida pelos semelhantes e pelos semelhantes o paciente retorna à saúde”. Como exemplo, afirmou que as próprias substâncias que causavam tossediarréia e provocavam o vômito, curavam doenças que apresentavam sintomas semelhantes, desde que utilizada em doses menores. Nas obras atribuídas a Hipócrates e seus predecessores, encontramos em vários trechos referências à assertiva similia similibus curantur, ou seja, o semelhante será curado pelo semelhante, embora a norma geral na terapêutica adotada naquela época fosse contraria contrariis curantur, o contrário será curado pelo contrário.
Embora tenha relatado o fenômeno da semelhança e observado a inversão da ação de uma mesma droga de acordo com a dose, Hipócrates não aprofundou seus estudos do princípio da similitude. Coube a Hahnemann demonstrá-lo quimicamente e firmá-lo como método terapêutico, bem como dotá-lo de uma farmacotécnica própria.


Christian Friederich Samuel Hahnemann

Nasceu em 10 de abril de 1755, na Saxônia, à leste da atual Alemanha. Com 15 anos seu pai o mandou para Leipzig como aprendiz de loja de um comerciante. Voltou para Meissen rogando aos pais a continuação de seus estudos, que não tinham condições financeirasmas acabaram cedendo, pois os professores da escola principesca Santa Afra ofereceram-lhe estudo grátis por 4 anos onde aprendeu a falar e ler, além do alemão, em inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu, caldeu.
Aos 20 anos, Hahnemann saiu de Meissen voltando para Leipzig como estudante de medicina na Universidade local. Devido às suas dificuldades financeiras deu aulas de línguas à noite e traduzindo obras estrangeiras, viajou para Viena para continuar seus estudos, onde desfrutou da proteção pessoal de um médico importante, Dr. Quarin, tornando-se médico em 1779, aprofundando-se em química e na preparação de medicamentos.
Os estudos químicos lhe davam tanta satisfação quanto à prática da medicina lhe decepcionava pelo fato da terapêutica alopática ser “confusa, insegura, suposta e muitas vezes contraditória”. Abandonou a medicina para dedicar-se à química e literatura.
Começou a traduzir a matéria médica, do inglês para o alemão, do Dr. William Cullenque ao analisar os efeitos da China officinalis (Quina – quinino), apresentava muitas teorias e aspectos confusos na eficácia do remédio na febre intermitente, principalmente em atribuir a eficiência terapêutica da droga ao seu efeito tônico sobre o estômago do paciente acometido pela malária. Não concordando com essa hipótese, foi então que Hahnemann resolveu experimentar em si mesmo os efeitos da quina, ou seja, testar a droga numa pessoa sadia. Tomou durante vários dias altas doses de quinina e começou a sentir os sintomas de um estado “febril intermitente”, idêntico às febres curadas pela quinina. Hahnemann faz uma descoberta curiosa: a administração de um medicamento semelhante pode provocar um agravamento do estado do paciente, seguido de sua melhora. Ele conclui que os sintomas provocados pelo medicamento se juntam àqueles decorrentes da doença antes de o corpo reagir contra esse conjunto, e por isso as doses devem ser diminuídas para evitar intoxicações.É assim que ele testa com sucesso as dosagens cada vez menores, que chamamos hoje em diade “infinitesimais” e que ele classificou na época como “imateriais”. Por outro lado, suaspesquisas põem em evidência um fato ainda hoje sem explicação: quando os medicamentossão simplesmente diluídos, são pouco operantes; quando eles são agitados energicamente a cada diluição, se tornam eficazes. É por isso que Hahnemann não fala em diluição e sim em “dinamização”.
Daí ressurgiu o conceito da cura pela semelhança (Similia Similibus Curantur). Seus opositores não aceitavam que ele fosse o fundador da homeopatia, visto que Hipócrates, Paracelso e outros já haviam firmado os princípios do conhecimento da lei dos semelhantes e a idéia de experimentação em indivíduos sãos já havia sido realizada e considerada extraordinariamente importante por Albrecht von Haller e Stahl, além de outros.
Passou a experimentar em si mesmo drogas como o mercúrio, a Belladona e o Digital e confirmou que “os mesmos efeitos eram produzidos em todas as experimentações do mesmo medicamento”. Descreveu assim o princípio universal da Cura pelos Semelhantes, onde expôs também suas concepções gerais de vida, de saúde e da doença sob a epígrafe “Aude Sapere” (a Força Vital).
Em 1799 houve uma epidemia de escarlatina (doença infecciosa aguda, caracterizada por agina e exantema de pequenas máculas confluentes) e, ao contrário da medicina alopática, Hahnemann obteve ótimos resultados com as experimentações de Belladona. Passou a tratar e curar com a sua “Medicina Milagrosa”  vários enfermos das proximidades onde residia e clinicava. Devido a isto, seus colegas médicos amarguraram sua vida com acusações e humilhações, obrigando-o a abandonar a cidade. Este fato acabou se repetindo por várias vezes, apesar de salvar tantas vidas.
Em 1819 publicou o “Organon da Arte de Curar”, em Torgau. Esta obra teve cinco edições durante a vida do autor e uma sexta que deixou preparada, tendo sida traduzida em 10 idiomas. A seguir, iniciou a publicação da “Matéria Médica Pura” e finalmente, “Tratado das Doenças Crônicas”.
Em 1830 morre sua esposa, 4 de suas filhas e perde o contato com seu único filho, já formado em medicina.
Em meados de 1831 houve uma terrível epidemia de cólera na Rússia que em julho deste mesmo ano, já estava deixando várias vítimas na Alemanha. Hahnemann não tinha oportunidade de ver e tratar os doentes de cólera, mas estava certo que deveriam ser tratados com Veratrum vir., Arsenicum, Ipecacuanha e Cuprum. Em setembro do mesmo ano indicou em um artigo o uso interior e exterior da Camphora.
Casou-se novamente aos 80 anos com uma francesa de 35, uma dama que nunca se soube ao certo o motivo de sua ida a Köthen em final de 1834 (como enferma sofrendo do pulmão ou pra aconselhar-se sobre sua mãe que sofria de gota), chegando à cidade vestida com roupas de homem. Em 1835, logo após o casamento, mudaram-se para Paris onde obteve autorização para clinicar, apesar da Academia de Medicina encaminhar um documento ao Ministro Guizot para proibir-lhe o exercício da medicina na França. Por influência da nova esposa de Hahnemann, além de sua própria atitude digna, respondeu à Academia: “Trata-se de um sábio de grande mérito. A ciência deve ser de todos! Se a homeopatia é uma quimera ou um sistema sem valor, cairá por si mesma. Se ela é, ao contrário, um progresso, expandir-se-á, apesar de nossas medidas proibitivas, e a Academia deve lembrar-se, antes de tudo, que tem a missão de fazer progredir a ciência e de  encorajar as descobertas”.
Nesta época a Homeopatia já estava bem estabelecida na França, Hahnemann já tinha vários discípulos e seguidores de sua doutrina e continuava ensinando, curando e escrevendo, apesar da idade avançada. Realizou a cura da filha de Ernest Legouvé, membro da Academia Francesa famoso escritor da época, que havia sido pelos mais ilustres médicos alopatas. Em virtude desse fato, foi presenteado com um quadro pintado por Duval,  uma autêntica obra prima, onde escreveu: “Deus a abençoou e salvou, Hahnemann”. Ele considerava a cura uma benção de Deus da qual o médico não seria mais do que um instrumento.
Em abril de 1843 entrou num quadro de bronquite que já o perseguia há tempos e apesar de todo tratamento homeopático a que foi submetido, no dia 2 de julho seu grande espírito partiu. Apesar de seus 88 anos de idade, estava forte, ativo, lúcido e bem disposto, mas provavelmente, chegara o tempo de regressar à “Pátria Espiritual”.


Ele também se dedicou a trabalhos no campo da química e da medicina:
- Na química industrial:
aperfeiçoou vários testes de bromatologia;
- desenvolveu métodos próprios para tintura de tecidos;
- desenvolveu testes de bromatologia para vinhos;
- foi tradutor de obras de química industrial, revia as traduções e descobria erros, desvendando segredos industriais de franceses, ingleses e holandeses.
- Na higiene industrial:
- purificação da água com nitrato de prata;
- desinfecção de feridas com mercúrio (foi ele que desenvolveu o mercúrio cromo);
- descreveu os sintomas de sufocamento e intoxicação nas minas de prata, cobre, cobalto;
- descobriu que a tintura vermelha para roupas envenenava as pessoas que a manuseavam com cobalto;
- descobriu que havia envenenamento por chumbo nas pessoas que trabalhavam  na fabricação de panelas e vidro;
- descobriu que havia intoxicação entre as pessoas que usavam carvão mineral para a calefação.

- Na farmacologia:
- combatia o uso do arsênico como antitérmico;
- preparava um antitérmico a partir da casca do salgueiro.


HOMEOPATIA NO BRASIL

Em 1840, um discípulo francês, Benoit-Julles Mure, vem para o Rio de Janeiro onde inicia a pratica e a propagação da homeopatia. Seu 1º discípulo no Brasil foi o médico português João Vicente Martins, que propagou a homeopatia no norte e nordeste brasileiro.Em 1843 foi fundado o Instituto Homeopático do Brasil.
Rapidamente se propagou no Brasil  e no final do século passado foi abraçada por médicos do Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro. Com isso, o governo republicano reconheceu o seu ensino e a sua pratica, criando enfermarias no Hospital da Marinha, no começo deste século. Também aparecem grandes nomes ligados à homeopatia, como Monteiro Lobato e Rui Barbosa.
Por volta de 1851, a escola Homeopática do Brasil, sob forte pressão dos farmacêuticos, resolve aprovar a separação da prática médica da prática farmacêutica, que mesmo assim, ainda permitia a manipulação de medicamentos homeopáticos por proprietários leigos. Somente em 1886, com o Decreto 9.554, surgiu uma lei que dava o direito de manipulação apenas aos farmacêuticos.
No final da década de 20, a homeopatia inicia seu declínio, talvez devido ao advento da nova terapêutica química na medicina, as sulfas e antibióticos, visto que os médicos desta época tinham um pensamento positivista e não vitalista-animista como os homeopatas. Nos anos 60, praticamente já não existe mais a homeopatia, restando uns poucos abnegados, principalmente no Rio e em São Paulo.  
A partir de 1965 foram surgiram leis específicas para a farmácia homeopática e por meio do Decreto nº 78.841, foi aprovada a parte geral da 1ª edição da Farmacopéia Homeopática Brasileira.
A Homeopatia só foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina em 1980, com a Resolução nº 1000/80 e em 1990 passou a constar do Conselho de Especialidades Médicas da Associação Médica Brasileira, deixando de fazer parte das terapias alternativas.
Em 19 de agosto de 1997, de acordo com a Portaria nº 1.180, foi aprovada a Parte I da 2ª edição da Farmacopéia Homeopática Brasileira.






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