21 de fevereiro de 2013

Concepção Homeopática do Processo Saúde e Doença


O Fenômeno Vital:
Segundo Hahnemann, a vida não pode ser revelada pelas leis físicas, que prevalecem somente pelas substâncias inorgânicas: “As substâncias materiais que compõem o nosso organismo não seguem, em suas combinações vitais, as leis às quais se submetem as substâncias na sua condição inanimada; elas são reguladas pelas leis peculiares à vitalidade”. O que a vida é, em sua essência, não é verificável pelo método científico. Ela só pode ser conhecida a partir de seus fenômenos e manifestações.
O modelo conceitual no qual a terapêutica homeopática se apóia é de origem vitalista. Somente quando aceitamos a noção de um princípio de causalidade para a vida, fora das dimensões físicas habituais, concordamos em considerá-lo um modelo para a Homeopatia. Apesar de a existência do princípio vital nunca ter sido provada, ou mesmo refutada, o modelo vitalista da Homeopatia apresenta-se coerente, pois por meio dele os clínicos obtêm excelentes resultados. Os modelos utilizados pela alopatia e pelaacupuntura também se apresentam coerentes. Entretanto, todos os modelos têm suas limitações. Por isso, quando surgem modelos mais bem elaborados, os antigos vão sendo substituídos ao longo do tempo.
Vitalismo é uma doutrina filosófica, segundo a qual os seres vivos possuem uma força particular que os mantém atuantes, o princípio ou força vital, distinta das propriedades físico-químicas do corpo.
Segundo o modelo filosófico homeopático, a condição do organismo depende apenas da saúde da vida que o anima. Assim, conclui-se que a doença consiste em uma condição alterada originalmente apenas nas sensibilidades e funções vitais, independentemente de toda consideração química ou mecânica, ou seja, a origem primária das doenças está na perturbação da força vital.


Força Vital:
Hahnemann interpreta a força vital como sendo a mantenedora do equilíbrio orgânico. Sob essa perspectiva, as doenças não são mais que manifestações deletérias da força vital modificada. Os microorganismos são apenas fatores necessários, mas não suficientes, para produzir doenças. Os fungos, por exemplo, não podem ser considerados como causa única da micose, visto que estão sempre presentes no organismo e a doença só se desenvolve quando outros fatores influenciam como temperatura, umidade, pH, stress, etc.
É a força vital que mantém o organismo em harmonia. Sem ela, o organismo não age, não sente e desintegra-se, sendo a força vital responsável pela integração dos diversos níveis dinâmicos da realidade humana (físico, emocional e mental).
O organismo humano no estado de saúde encontra-se em equilíbrio nos seus aspectos físico, emocional e mental. Quando a força vital é perturbada, os mecanismos de defesa do organismo são acionados (sobretudo os sistemas imune e endócrino). A força vital pode ser influenciada negativamente por fatores exógenos como ritmos de vida insalubres, alimentação de má qualidade, drogas, etc. e por fatores endógenos como tristeza, irritabilidade, ódio, etc.
A Homeopatia define saúde como um estado de equilíbrio dinâmico que abrange as realidades física e psicomental dos indivíduos em suas interações com o ambiente natural e social. A doença reflete, mediante os sintomas, o esforço da força vital na tentativa de restabelecer o equilíbrio.

Níveis Dinâmicos:
O ser humano apresenta três níveis dinâmicos identificáveis: o físico, o emocional e o mental. Sobre eles age a força vital mantendo-os equilibrados. O homem pensa por meio do seu nível mental, sente por seu nível emocional, age pelo seu nível físico e encontra-se coeso em seus três níveis pela ação integradora da força vital.
Existe uma hierarquia na constituição do ser humano: o nível mental é o mais importante e o físico o menos importante. Já o nível emocional é menos importante que o nível mental, porém, mais importante que o nível físico, existindo uma completa interação entre eles. Todavia, para o Homeopata é necessário distingui-los para avaliar a evolução da doença.
Cada nível também apresenta uma hierarquia. No nível físico, por exemplo, os órgãos respiratórios são mais importantes que a pele; no nível emocional uma irritabilidade é menos importante que uma depressão; no nível mental a falta de concentração ou uma letargia são muito menos importantes que um delírio ou uma paranóia.
Quando um órgão nobre é atingido por uma doença, a força vital transfere o problema para um nível mais periférico para aliviar a agressão. Na bronquite asmática, por exemplo, o paciente poderá alterar crises de tosse com eczema. A força vital, não sendo forte o suficiente para eliminar a bronquite, transfere o problema para a pele. Momentaneamente, a pele passa a ser a “válvula de escape”do organismo. Isso é muito freqüente nas doenças crônicas. Todavia, um indivíduo com pouca vitalidade, acometido de crise emocional prolongada, poderá ter uma piora no seu estado mental; uma angústia que virou depressão, por exemplo.
A pele é muito importante no contexto geral do organismo. Não devemos atuar com um medicamento de uso tópico de forma paliativa, pois assim criamos um enorme obstáculo à tentativa de cura patrocinada pela força vital. Ao remover a totalidade dos sintomas entes da cura do problema original (um estado de tristeza profunda, por exemplo), além de não curar, impedimos a identificação do simillimum.
A supressão decorre da ação medicamentosa paliativa, que irá acarretar inibição ou remoção de sintomas antes da cura do problema original, fazendo com que ocorra seu retorno ou de outros problemas mais graves depois de certo tempo.  
Chamamos de metástases mórbidas as perturbações causadas pela supressão, que ao eliminar os sintomas faz uma reversão da ação mórbida a níveis mais profundos e perigosos.
Por exemplo, ao eliminar uma diarréia com antiespasmódicos e antidiarreicos, tomando esse sintoma como doença, sem considerar os diferentes níveis dinâmicos (físico, emocional e mental), provavelmente faremos uma supressão. Esta  poderá gerar como metástase mórbida, uma úlcera gástrica ou outro problema mais grave que a diarréia.
Alguns médicos homeopatas utilizam antibióticos para diminuir a população bacteriana num combate direto à doença inflamatória. Em seguida, lançam mão dosimillimum para o tratamento do doente, ou seja, para equilibra-lo em seus três níveis, com o fortalecimento da força vital. Dessa forma, com o restabelecimento do equilíbrio dinâmico, fica difícil as bactérias invadirem a pele ou a mucosa. Neste exemplo, observamos como as terapêuticas homeopática e alopática podem, juntas, beneficiar o paciente.

Processo de Cura:
Na perspectiva homeopática, o clínico procura reforçar os mecanismos de defesa naturais ao agir na mesma direção da força vital, ou seja, o homeopata procura não suprimir sintomas.
Os pacientes atendidos pela homeopatia são analisados em função de suas respostas específicas, ou seja, de acordo com seus sintomas particulares e diferentemente da alopatia, não recebem medicamentos em função do nome da doença. É daí que vem a afirmativa um pouco exagerada que a “Homeopatia trata doentes e não doenças”.
Os homeopatas observam tendências dominantes que expressam os processos de cura das doenças crônicas. Elas foram sistematizadas por um discípulo de Hahnemann, Constantine Hering (1800 – 1880) que, após ter sido incumbido de escrever um trabalho contra a homeopatia, ao pesquisá-la, acabou tornando-se um dos maiores médicos homeopatas do século XIX. Elaborou diversos experimentos, até mesmo com veneno de cobra e afirmou que, à medida que a doença se torna crônica, existe uma progressão de sintomas e o desaparecimento desses sintomas, na ordem inversa do se aparecimento, indica que a doença está evoluindo para a cura (lei de Hering ou lei da cura).
Leis de cura:
- Os sintomas devem desaparecer na ordem inversa do seu aparecimento;
- A cura progride do alto do corpo para baixo;
- O corpo procura exteriorizar os sintomas, mantendo-os em suas partes mais exteriores (mucosas e pele);
A cura progride dos órgãos mais nobres para os menos nobres;
- Antigos sintomas podem reaparecer.
A constatação de uma dessas eventualidades ajuda o médico a conduzir o tratamento homeopático. Ele poderá suspender o medicamento ou até mesmo substituí-lo, dependendo da evolução do quadro.


Matéria Médica Homeopática e Repertório:
Após o levantamento dos sinais e sintomas, tem início a fase mais difícil da consulta médica homeopática: a identificação do simillimumPara tanto utilizam-se recursos como as matérias médicas homeopáticas e os repertórios.
A matéria médica homeopática é a obra que reúne as patogenesias desenvolvidas pelas drogas e pelos medicamentos homeopáticos quando administrados, nas suas diferentes doses, a indivíduos sadios e sensíveis.
A matéria médica homeopática caracteriza-se pela sua farmacodinâmica, por meio da experimentação fisiológica realizada no homem sadio. A farmacologia, a terapêutica, a toxicologia (acidental, voluntária, profissional e iatrogênica) e as toxicomanias também contribuem como fontes de sintomas para a matéria médica homeopática. Dentre as várias existentes, as mais citadas são: De Hahnemann, de Hering, de Allen, de Lathoud, de Vijnovsky e de Voisin.
Repertório é a obra que reúne os sinais e sintomas, seguidos pelas drogas e pelos medicamentos, em cuja experimentação no homem sadio eles se manifestam.
É uma compilação de todos os sintomas organizados em ordem alfabética, para agilizar a consulta médica. Nesse livro, os medicamentos que possuem determinados sintomas se agrupam sob a rubrica desse sintoma. É praticamente impossível para o clínico homeopata folhear todas as páginas das matérias médicas para descobrir osimillimum e por isso, foram elaboradas, por diversos autores, referências cruzadas que compilam os medicamentos em que determinado sintoma foi localizado, a fim de permitir que o clínico reveja rapidamente as diferentes drogas produtoras dos sintomas que estão sendo estudados.

Em um primeiro momento, o repertório auxilia o médico homeopata a encontrar rapidamente o medicamento, para em seguida, estudá-lo com mais detalhes na matéria médica, confirmando ou não a sua indicação para o paciente. Dentre os vários repertórios existente, os mais citados são: de Boenninghausen, de Kent, de Boericke e de Barthel.

2 comentários:

Bem Vindo.